quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014: O ano da Gratidão


Fazedora de coisas impossíveis
                                                  

                                                          Agradecimentos

Declaro de antemão que serei ingrata desde o início até as derradeiras palavras deste espaço que se destina a agradecer a todos que contribuíram de alguma forma, digo, direta e indireta para a realização desta reportagem especial, sua execução, desenvolvimento e conclusão, tanto para quem foi fulcral para que essa jovem que vos escreve possa se dizer jornalista.

Explico. Como conseguiria agradecer a moça que uma vez segurou o ônibus, acenando, para que eu pudesse pegá-lo e assim chegar a tempo de fazer uma prova, depois do trabalho? Como poderia agradecer essa pessoa que nunca vi na vida, mas que sem ela, não conseguiria ter feito um exame, para passar mais uma etapa? Nunca mais a vi na vida, e talvez esse ser nunca tome ciência dessa contribuição.

Ou então, como declarar a minha gratidão, para a caixa do banco que me atendeu mesmo depois das quatro horas da tarde, seu horário de trabalho, no último dia em que não se aplicavam juros na mensalidade, que talvez eu não pudesse pagar, já que o dinheiro sempre foi contado? Não houve tempo para mais de um agradecimento trivial.


Infelizmente, reconheço a minha ingratidão, porque essa indelicadeza da minha parte não atinge somente os desconhecidos do caminho e os anjos que cuidaram de mim, que aqui e em outra esfera vigiaram cada passo meu, ela é maior quando se refere aos conhecidos e amados parentes e amigos.

Ressalto que a minha ingratidão não é fruto de má educação, já que fui educada por uma mulher forte, de mão de ferro, mas ao mesmo tempo doce, com coração de anjo. É a mulher mais incrível deste planeta. Na sua magnitude, conseguiu e consegue administrar as bipolaridades necessárias para se criar dois seres humanos, (e de mais dois nas férias de de verão), de bem, de caráter, e cada um à sua maneira, com prioridade de vida, o objetivo de fazer do mundo um lugar melhor para se viver. Ser filha tua me mostrou que não há nada que a gente queira que não se consiga com trabalho, disposição e determinação: “É só teimar, vai lá e teima”. Sua visão de mundo cheia de ternura e revolta fez de mim o mais ingrato de todos os seres, já que tenho em um só ser a mãe, a amiga, e a irmã.



Dividi o seu amor com outros três seres que também tornam o meu agradecimento inalcançável. Rafael, que divide comigo mãe e pai, dividiu o morar, o lazer, o chorar e o sorrir de todos esses vinte e dois anos. Lembrar-me tua irmã mareja meus olhos e enche meu peito de orgulho. Nossas histórias de vida se permeiam, e dentro de mim viverás para sempre como meu companheiro de mau humor da mãe, espera da busca do pai e de conversa jogada fora antes de dormir. Junto conosco, Alex e Mariana, e essa distância que nos aperta o coração, mas não alarga nem um pouco o sentimento e a admiração que sentimos um pelo outro, e todos pelo nosso mirim, Carlos Miguel.

Espero que a minha ingratidão confessa não seja levada a mal, é só uma forma de reconhecer que sou incapaz de agradecer em forma de palavras, sílabas, períodos e parágrafos todos os sabores e dissabores que a vida me deu e me dá. Meu pai, que teve a ausência compensada pela presença, com os olhos atentos a me ouvir dizer de política, sol, céu, trabalho, jornalismo, fazendo me sentir o Gay Talese do periódico, e o Gutemberg da impressão.

Há muitos outros motivos para justificar vinte dois anos de persona non grata, e pessoas para mencionar, mas não me estendo, e logo findo. Pedro Henrique Barcelos, você também é um dos motivos de minha gratidão não ser alcançável. Nossas provocações sobre o BRT, o jornalismo contemporâneo, economia e pastéis de camarão fazem de mim uma ingrata muito mais feliz.


Por fim e ao que interessa, dedico esta reportagem a todos os trabalhadores do Rio de Janeiro, gente digna, de bem e que merece uma vida menos injusta e cruel. E principalmente para que outras Marias, Carolinas, Rafaeis e Migueis sejam inspirados pelos conhecimentos aplicados na melhora da vida social. 

domingo, 27 de abril de 2014

O Leme de Outono

Quem me conhece sabe, que eu adoro e tenho o hábito de ir à praia sozinha.

Nada contra o coletivo, mas gosto de ler, dormir, estudar.  A brisa do mar me inspira e me leva para outra dimensão, aonde vai muito bem conjugar os verbos acima.

Bom, e lá estava eu, como outro domingo qualquer, depois de ter tirado uma soneca, dado um mergulho, secado, e finalmente com o livro na mão.

Aspirando um futuro espiritual e profissional melhor, eu estava lendo e pensando sobre a Economia Global e a Exclusão Social de Dupas, quando percebi que um cara estava se aproximando, quase totalmente aproximado do perímetro de areia onde estava a minha canga:

- Você quer um cigarro?

Tirei os olhos do livro, olhei, sorri sem mostrar os dentes e respondi taxativa:

- Não, obrigada.

Voltei os olhos para o livro, como quem diz “se adianta”, mas  o mala não desistiu:

- Qual seu nome?

- Maria, respondi.

- O que você está lendo?

- Estou lendo geografia, tenho prova, você pode me deixar estudar, por favor?

Já estava sem paciência não pelo que ele já tinha insistido, mas pelo que eu já tinha percebido que ele iria insistir.

- Quando é a sua prova?

Um segundo para não mentir errado porque essa semana tem feriado:

- Terça.

- Ah, então você tem tempo para estudar. Disse a bagagem da Paris Hilton.

- Meu filho, desculpa, mas eu preciso me concentrar. Você pode me deixar, por favor? Eu já estava furibunda, e deixando clara a minha ira.

- Você vai perder 30 minutos de estudo se falar comigo? Vai deixar de conhecer alguém interessante?

- Tudo tem seu preço, respondi.

Ele gargalhou como se a resposta tivesse sido uma sacada, mas era desespero dos brabos, eu já estava irritada a níveis perigosos.

- Olha, por favor, eu preciso me concentrar, você pode ir embora? Desculpa, mas eu preciso estudar mesmo. Supliquei com a alma.

Ele foi contrariado. Não era brasileiro, falava um portunhol esquisito. Coisa de peruano ou boliviano ou uruguaio ou paraguaio , ou 171 mesmo.

Mais um tempinho lendo, deu a hora que eu havia programado, o sol dado lugar à sombra fria de outono, eu, como boa capricorniana, já levantei para partir para as outras funções da minha lista de afazeres de domingo.

O exu voltou:

- Você falou que ia falar comigo quando acabasse de estudar.

- Mas eu tenho que ir embora. Disse, catando a minha canga.

- Olha, você disse uma coisa certa, tudo tem seu preço, mas também tudo é negociável.

Eu não estava acreditando no que estava acontecendo, senti medo.

Ele tirou o óculos escuros e disse “olha pra mim”, como quem diz: “eu sou bonito”.

Achei cômico.

Deixei-o falando sozinho e sai andando. Ele chamava: Maria, Maria.

Tipo cena de cinema de filme romântico, e nunca tinha me visto na vida. 

No caminho da areia do leme até o calçadão outro desconhecido íntimo:

- Já vai?

Questionei a minha sanidade mental. Será que eu havia conhecido aquelas peças em algum momento de cirok ou amarula ou jurupinga ou boazinha e não me lembrava?

Deixei pra lá e fui andando para o mercado, olhei para trás e quem estava?

O peruano/boliviano/uruguaio, mais brasileiro do mundo. Não desistia nunca.

Perguntou-me:

- Você não quer conhecer pessoas? Porque, Maria? Eu estou descalço, eu não disse que quero ficar com você, só quero te conhecer.

Disse “ficar com você” em alguma expressão da língua dele, mas que queria dizer isso.
Eu já estava com bastante medo, e disse:

- Não, não quero conhecer, eu estou numa fase introspectiva da minha vida.

Se ele fosse o Amor da Minha Vida nº23, eu até poderia querer conhecer e trocar meu Dupas por um papo furado com gargalhadas e bochechas vermelhas, mas não era o caso.

Será que é o tinder ou isso?


Bom, vou ter que pensar sobre ir à praia sozinha.