quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Conto De Quem Conta

Prólogo:Um ponto de vista de um ponto desprovido de demagogia.

Num dia desses qualquer, passando por uma rua movimentada, onde há um colégio estritamente destinado a pessoas financeiramente privilegiadas, pude ouvir o seguinte diálogo sobre a guerra civil do Rio de Janeiro, ocorrida/ocorrendo esses dias:

- Tem que matar todos esses bandidos.
- È, esses filhos da puta tem todos que morrer.

Passei a semana inteira pensando nas duas frases. Tentando achar uma posição sobre os comentários. Como um exu mnemônico a cena ia e voltava, as vozes, a maneira com que falavam, o gesto, até que...

PAUSE.

Com o auxílio da minha imaginação voltei na tal cena perturbadora e ...

-Oi.
- Não que eu seja conivente com a criminalidade, ou que eu tenha algum vínculo sanguíneo com algum destes marginais, ou que muito menos eu faça parte de uma dessas campanhas de direitos humano, que na verdade estão mais para oportunismo no humano, mas achar que tem que matar todos eles sem conhecer o outro lado do Rebouças é mole.

- Estes de quem tanto tem se falado, são moradores da Penha, subúrbio carioca, área leopoldinense desta cidade.

- Cinema lá? Só no bairro vizinho.
- Teatro? Uma hora para chegar, no mínimo.
- Praia? Ônibus lotado.
- Viagem nas férias? Prefiro não comentar.
-O mais próximo é o barraco, as drogas, o baile, e as armas.

- Sabemos que o ser humano é fruto de seu meio social, é o reflexo que vêem, vivem, de sua família. Pelo menos até agora não se descobriu no DNA de ninguém : marginal, bandido ou traficante. Certamente este não foi o sonho de nenhum deles.

- Concluindo que foi o meio que os transformou no que são, podemos avançar no raciocínio, e nos perguntar:

- E o meio? O reflexo? Quem os fez/faz?
O verdadeiro crime. Quem o comente?

- A favela de verdade está em Brasília, e os verdadeiros traficantes usam pastas nas mãos ao invés de metralhadoras, esses sim é que merecem julgamento de morte.

- Eles que deixam quase que uma cidade toda desassistida, sem qualquer atenção, de necessidades básicas e qualidade de vida. Transformando PESSOAS, em marginais.

- O quero dizer, é que matá-los ou não, não resolve o problema, no máximo ameniza corriqueiramente. Enquanto eles morrem a corrupção cria mais cem iguais ou piores.

- Atirar neles, é apenas acabar com uma vida que já nasceu acabada.

- Apertei o play.

- Agradeci a imaginação.

Segui, de boca calada, de mãos atadas e frustrada, como a maioria das pessoas que pensam e falam que “tem que matar todos eles”.