terça-feira, 28 de julho de 2009

PARTE III

Diante da quantidade enorme de amigos da Carolina, era difícil conta-los, como já foi dito. Mas apareceram figuras muito especiais, que ajudaram a moldar em palavras uma pessoa tão excepcional. E mostrar também que por aí há muita gente especial escondida atrás de um humanismo rotineiro, culpa da sociedade. Nem todo mundo sabe ter o peito aberto e, mesmo assim, uma defesa quase imbatível. O que importa é que cada pessoa, com sua personalidade, conseguiu ensinar um pouquinho pra ela e a Carolina passou a compartilhar o que tinha de melhor em cada uma com ela mesma.
Tudo começou quando ela era pequenininha ainda, devia ter uns cinco anos. A mãe olhou nos olhos dela e disse:
- Se você não viver, não vai poder falar nada de nada no fim de tudo, porque na verdade, de verdade, você não vai saber. Você tem que sentir a intensidade de cada sopro de ar, de cada vibração que chegue ate você, não importa como. Você tem que saber que, por trás de tudo, a uma coisa enorme que não precisa ser contada. Nem mencionada deve ser. Apenas sentida, – olhou para as folhas balançando com o vento lá fora – porque quando a gente sente pode traduzir para qualquer língua. Quero apenas que você entenda o verdadeiro sentido de tudo o que chegar até você.
Depois que a mãe disse isso, passou por um sofrimento enorme, estava doente. Até que olhou nos olhos da Carolina de novo, disse “eu te amo” com os olhos; percebeu que a Carolina havia entendido e respondido “eu também”, com os olhos, de uma forma tão real que parecia ter ouvido a voz da filha pronunciando a resposta. Então, ela ficou tranqüila e fechou os olhos em paz. Para sempre.
A primeira pessoa de importância extrema que apareceu na vida dela. Ela ainda era tão viva no coração da Carolina que não foi necessária nem mesmo uma lágrima. Apenas a lembrança permanente de um futuro brilhante que não puderam compartilhar. Então, que outras coisas fossem compartilhadas com outras pessoas. O segredo da intensidade da vida não poderia ser guardado e utilizado apenas por ela.

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