Declaro de antemão que serei ingrata desde o
início até as derradeiras palavras deste espaço que se destina a agradecer a
todos que contribuíram de alguma forma, digo, direta e indireta para a
realização desta reportagem especial, sua execução, desenvolvimento e
conclusão, tanto para quem foi fulcral para que essa jovem que vos escreve
possa se dizer jornalista.
Explico. Como conseguiria agradecer a moça que
uma vez segurou o ônibus, acenando, para que eu pudesse pegá-lo e assim chegar
a tempo de fazer uma prova, depois do trabalho? Como poderia agradecer essa
pessoa que nunca vi na vida, mas que sem ela, não conseguiria ter feito um exame,
para passar mais uma etapa? Nunca mais a vi na vida, e talvez esse ser nunca
tome ciência dessa contribuição.
Ou então, como declarar a minha gratidão, para
a caixa do banco que me atendeu mesmo depois das quatro horas da tarde, seu
horário de trabalho, no último dia em que não se aplicavam juros na
mensalidade, que talvez eu não pudesse pagar, já que o dinheiro sempre foi
contado? Não houve tempo para mais de um agradecimento trivial.
Infelizmente, reconheço a minha ingratidão, porque
essa indelicadeza da minha parte não atinge somente os desconhecidos do caminho
e os anjos que cuidaram de mim, que aqui e em outra esfera vigiaram cada passo
meu, ela é maior quando se refere aos conhecidos e amados parentes e amigos.
Ressalto que a minha ingratidão não é fruto de
má educação, já que fui educada por uma mulher forte, de mão de ferro, mas ao
mesmo tempo doce, com coração de anjo. É a mulher mais incrível deste planeta.
Na sua magnitude, conseguiu e consegue administrar as bipolaridades necessárias
para se criar dois seres humanos, (e de mais dois nas férias de de verão), de
bem, de caráter, e cada um à sua maneira, com prioridade de vida, o objetivo de
fazer do mundo um lugar melhor para se viver. Ser filha tua me mostrou que não
há nada que a gente queira que não se consiga com trabalho, disposição e
determinação: “É só teimar, vai lá e teima”. Sua visão de mundo cheia de
ternura e revolta fez de mim o mais ingrato de todos os seres, já que tenho em
um só ser a mãe, a amiga, e a irmã.

Espero que a minha ingratidão confessa não
seja levada a mal, é só uma forma de reconhecer que sou incapaz de agradecer em
forma de palavras, sílabas, períodos e parágrafos todos os sabores e dissabores
que a vida me deu e me dá. Meu pai, que teve a ausência compensada pela presença,
com os olhos atentos a me ouvir dizer de política, sol, céu, trabalho,
jornalismo, fazendo me sentir o Gay Talese do periódico, e o Gutemberg da
impressão.
Há muitos outros motivos para justificar vinte
dois anos de persona non grata, e
pessoas para mencionar, mas não me estendo, e logo findo. Pedro Henrique
Barcelos, você também é um dos motivos de minha gratidão não ser alcançável.
Nossas provocações sobre o BRT, o jornalismo contemporâneo, economia e pastéis
de camarão fazem de mim uma ingrata muito mais feliz.
Por fim e ao que interessa, dedico esta
reportagem a todos os trabalhadores do Rio de Janeiro, gente digna, de bem e
que merece uma vida menos injusta e cruel. E principalmente para que outras
Marias, Carolinas, Rafaeis e Migueis sejam inspirados pelos conhecimentos
aplicados na melhora da vida social.